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Foto do escritorPaula Pompeu Fiuza Lima

Por que é tão difícil mobilizar as pessoas a investir em impacto?

Quando comecei a questionar a destinação dos meus investimentos, para mim parecia muito óbvia o potencial transformador dos investimentos de impacto. Seria um exemplo perfeito de iniciativa no qual todos saem ganhando, quem investe, as empresas, as pessoas beneficiadas pelas empresas e a natureza. Talvez houvesse alguma necessidade de ajuste para torná-los mais acessíveis, com maior liquidez para quem faz investimentos menores e maior paciência para empresas que estão começando. Mas isso não é nenhum problema quando se pensa que políticas públicas servem justamente para viabilizar ações que sem o Estado seriam pouco sustentáveis.

Acompanho algumas das principais organizações que oferecem oportunidades de investimentos de impacto socioambiental. Muitas delas ressaltam que o Estado precisa ocupar seu papel, mas esse nem de longe parece ser o maior desafio encontrado por elas. Quando escuto suas dores cotidianas, o maior desafio parece ser o comercial, aquele de vender os investimentos de impacto para possíveis pessoas interessadas.

Os investimentos de impacto, se vistos como um produto financeiro com menor rentabilidade, maior risco e menor liquidez, talvez sejam, de fato, um produto mais difícil de vender. Mas acredito que se apresentados como um caminho para a nova economia pode ser que seja mais fácil envolver as pessoas nessa proposta. Possivelmente, e falo assim porque isso não passa de um palpite, talvez a solução seja não querer vender o produto, mas engajar as pessoas em um projeto econômico.

E o que engaja as pessoas? De forma muito simplista, o engajamento pode ser explicado por meio de diferentes fatores: a construção de identidades coletivas, a definição de estratégias para o alcance dos objetivos definidos e as oportunidades existentes.

Em um contexto em que os bancos e corretoras querem surfar na onda de investimentos sustentáveis e que a própria Comissão de Valores Mobiliários vem regulando diferentes inovações em um ritmo alucinante, acredito que atualmente temos muito mais oportunidades para pautar esse tipo de investimentos do que em momentos anteriores. Também acompanho algumas estratégias para garantir que haja recursos para investimentos de impacto: parcerias com fundações, bancos públicos e privados, entre outras.

O que sinto falta, contudo, é o esforço de construção de identidades em torno da proposta dos investimentos de impacto, o que talvez seja a dimensão que mais afeta a pessoa comum, quem investe no varejo.Pode ser que esse seja o principal desafio ao transformar os investimentos de impacto em uma proposta, não só um produto.

Construir identidades pode ser feito de duas formas distintas. A primeira delas é criando grupos distintos de "nós" e "eles", em que quem faz parte do meu grupo é meu amigo e quem não faz é meu inimigo e precisa ser eliminado. Atualmente, esse é um dos principais fatores na formação de identidade política da maior parte das pessoas, por isso tamanha dificuldade para conversar com o diferente.

Já a segunda forma é por meio do trabalho conjunto, reconhecendo o valor de cada pessoa. Quem já não se sentiu forte e potente ao ser parte de um grupo que consegue realizar coisas incríveis? E essa é a potência dos investimentos de impacto, viabilizar coisas incríveis!. Mas para engajar é necessário coletivizar os investimentos de impacto, mostrar que investir é uma forma de ativismo, assim como é assinar um abaixo assinado, ir a uma manifestação, fazer um boicote, participar de um mutirão. E quando os resultados desse investimento começarem a aparecer, é importante mostrar às pessoas que esses resultados só foram possíveis graças ao engajamento de cada uma delas.

Coletivizar investimentos talvez seja o principal desafio. As finanças de uma pessoa se encontram no rol de temas que não discutimos. Não perguntamos quanto uma pessoa ganha nem como ela sustenta (ou não sustenta) o seu padrão de vida. Coletivizar investimentos talvez exija começar a romper com esse tabu - o que não significa questionar as decisões de uma pessoa sobre o que ela faz com seu dinheiro. O que proponho é pensar que individualmente, com os recursos que temos, podemos participar da construção da nova economia. Lembrar que ela não é restrita a classe política e rica, e sim algo que precisa ser criado de forma conjunta.


Paula Fiuza, fundadora da É Circular


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